Ata-me! – crítica- sensualidade e paixão em um filme encantador
A primeira vez que assisti Ata-me! foi em um Festival de
Filmes do Almodóvar que aconteceu na minha cidade. Sou de Bauru, uma cidade que
se pretende grande, mas que tem um paredão quase impenetrável em matéria
cultural e, não fosse um Festival Almodóvar que aconteceu num cinema que havia
num clube, num tempo em que haviam clubes e cinemas fora dos shoppings centers,
eu jamais teria assistido Ata-me! na tela grande, pois Pedro Almodóvar não
vende ingressos tão bem quanto filmes de super-heróis e comédias brasileiras,
então dificilmente chega por aqui.
É incrível ver Antonio Banderas como Ricky na telona: lindo,
sensual, com um olhar castanho luminoso que parece penetrar na mente dos
espectadores. Foi a primeira vez que vi Antonio Banderas e depois deste filme
passei a persegui-lo por todos os seus filmes e também me apaixonei por Pedro
Almodóvar, com seus filmes criativos, politicamente incorretos, com um
colorismo exacerbado e com amores intensos que nos desculpam por todas as
bobagens que possamos ter feito na vida por uma paixão.
Resolvi rever Ata-me!
e mais uma vez senti a força de Pedro Almodóvar, dirigindo o seu ator favorito:
Antonio Banderas. Pedro Almodóvar e Antonio Banderas são amigos, ou mais do que
isto, pois Almodóvar escolheu Antonio Banderas para ser seu álter ego em Dor e Glória, um filme autobiográfico.
Um casamento tão perfeito entre um diretor e um ator só pode
gerar grandes obras, e Ata-me! é um
dos frutos desta união, e talvez seja o melhor deles.
Resenha
Ricky é um jovem que passou a vida entre orfanato, casa de
recuperação e manicômio, do qual costuma fugir ocasionalmente, mas ele sempre
volta para o manicômio, pois não tem para onde ir, até que chega o dia em que
ele ganha a sua liberdade através de uma sentença judicial.
Ricky vai à procura de Marina (Victoria Abril), uma ex-atriz
pornô, drogada, com que ele transou em uma de suas fugas. Ele vê nela a chance
de reconstruir a sua vida, para tanto ele a sequestra e a mantem amarrada na
cama do próprio apartamento dela, ou às vezes algemada a ele quando saem na
rua.
Marina está terminando um filme de terror, classe B, cujo diretor
Máximo Espejo (Francisco Rabal), um cadeirante que acredita estar fazendo a sua
última obra, é apaixonado eroticamente por ela e através dele ela está tendo a
chance de uma nova carreira no cinema.
A produtora do filme e empresária de Marina, é sua irmã Lola
(Loles Leon).
É neste contexto que Ricky entra na vida de Marina, de
maneira violenta e se apresenta para ela se descrevendo como: “Tenho 23 anos e
50.000 pesetas. Estou sozinho no mundo. Espero ser um bom marido para você e um
bom pai para seus filhos”.
Ele acredita que deve manter Marina presa até que ela se apaixone
por ele, e para isto não importa em agir de maneira violenta, muitas vezes a
agredindo.
O filme mostra a luta entre Marina e o seu sequestrador
Ricky. Enquanto ela luta pela sua liberdade, ele luta para conquistá-la e os
sentimentos vão mudando conforme eles vão convivendo.
Porque assistir
Se tem Antonio Banderas, Victoria Abril e Rossy de Palma
(como traficante de drogas) em um filme de Pedro Almodóvar, então não é preciso
mais nada para convencer alguém que tenha no mínimo dois dedos de testa a assistir,
mas na verdade o subtítulo não deveria ser “porque assistir”, mas sim “como assistir”
Assista sem preconceitos, sem ficar julgando os personagens
e analisando a violência doméstica que acontece entre quatro paredes.
Também deixe de lado a análise com foco na Síndrome de
Estocolmo, aquele comportamento típico das vítimas de sequestro que acabam por
se identificarem com os sequestradores.
Esvazie a sua mente e aceite os personagens como são, aceite
a intensidade das paixões e a dependência que cada personagem tem de alguma
coisa ou de alguém.
Marina depende de drogas pesadas, Ricky depende de Marina,
Máximo depende do erotismo de filmes pornográficos e Lola depende da irmã para
ter um emprego.
Preste atenção
O filme tem duas cenas de dança fantásticas.
Uma delas é a cena de Lola dançando com Máximo em sua
cadeira de rodas. A cena, focalizada de cima é um verdadeiro balé.
A outra cena é de uma casal dançando tango, numa explicação
do porquê os espanhóis caírem na dependência do assistencialismo do governo
quando se aposentam.
Na verdade são duas cenas que poderiam ser cortadas do filme,
pois não fariam nenhuma diferença, mas elas são lindas.
Cenários e figurino
Como em todos os filmes do Almodóvar, tudo em Ata-me! é muito colorido. Os cenários do
filme de terror parecem mais um parque de diversões. O apartamento de Marina
parece um pintura de Frida Kahlo e tudo na volta é puro colorismo.
As roupas de Marina são muito coloridas e quase infantis,
exceto pelo vestido laranja usado quando ela está filmando, que tem uma certa
sensualidade por revelar o seu corpo, as demais roupas beiram a castidade.
Detalhe importante: a trilha sonora é de Enio Morricone, que
é um compositor premiadíssimo, responsável por trilhas de filmes importantes
como: Cinema Paradiso, Três Homens Em Conflito, Por Um Punhado De Dólares, entre outros.
Ata-me! é um filme
muito sensual e quase ganhou a classificação de filme pornográfico nos EUA, mas
não chegou a tanto, em todo caso, tire as crianças da sala.
O final do filme é inesperado e muito bonito, um dos finais
mais emocionantes que eu já assisti.
Existe uma boa cópia paga para assistir on line e o preço
começa em R$ 3,90.
Estou colocando o trailer do filme, mas não tem uma nitidez
nota 10, o filme está bem melhor do que o trailer.
Esse filme é um dos clássicos do Almodóvar, chegou a hora de revê-lo que eu nem lembro mais.
ResponderExcluirBig beijos
www.luluonthesky.com
Eu achava que me lembrava, mas quando comecei a rever, vi que é melhor do que eu pensava que era. Vale a pena.
ExcluirBeijos
Oi Betty, eu adoro o Antonio Banderas!
ResponderExcluirParece que à medida que ele está envelhecendo está mais charmoso ainda...
Não vi esse filme, já foi pra minha lista.
Bjs